sexta-feira, 15 de junho de 2007

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Uma terra com identidade virada para o futuro

Há 100 anos, um grupo de três homens ilustres deu o “grito de ipiranga”, entendendo que Vila Nova merecia a emancipação. Um século depois, a mais nova freguesia do concelho afirma-se como um território com identidade própria, onde os homens sonham e a obra nasce. Muito já foi feito, mas muito falta ainda fazer. Todavia, o optimismo constitui a “pedra e toque” do presidente da Junta de Freguesia. José Godinho está empenhado em tudo fazer a bem da terra que considera sua e que inspirou Miguel Torga

Fala da sua terra com um entusiasmo que contagia e que faz parecer fácil o que é difícil e para alguns impossível. Falamos de José Godinho, presidente da Junta de Vila Nova, a mais recente freguesia de Miranda do Corvo, que este ano assinala o seu centenário. A cumprir o seu quarto mandato à frente da terra que entende como sua, onde nasceram os seus filhos e à qual está ligado há mais de três décadas, o autarca é bem o retrato do poema e a prova de que “o sonho comanda a vida e quando um homem sonha o mundo pula e avança”. Vila Nova é isso mesmo, uma freguesia sui generis, que sonha e acredita e, contra ventos e marés (ou a favor deles), fez obras e orgulha-se delas.
«O melhor que Vila Nova tem é o seu povo, um povo serrano, humilde e trabalhador, que ama a sua terra», afirma José Godinho, que interiorizou e fez sua essa devoção à terra, uma terra centrada na Serra da Lousã, que reúne 24 aldeias, num território de 27 quilómetros quadrados, a maioria dos quais localizada na encosta sudoeste da serra, confinando com os concelhos da Lousã, Penela e Figueiró dos Vinhos. Serrana por excelência, Vila Nova intitula-se “freguesia miradouro”, tendo o seu ponto mais alto localizado a 900 metros de altitude, no Alto de Relva de Tábuas, uma ampla plataforma de onde, em dias de céu limpo, se avista uma paisagem deslumbrante, que se estende das águas do Atlântico a terras de Castelo Branco, envolvendo, de permeio, todo o Baixo Mondego.
Observatório único

Vista única tem também o Observatório Astronómico e da Natureza de Vila Nova. Um projecto ímpar, prova efectiva de que para fazer obra é preciso sonhar em grande. Foi isso que aconteceu com a Junta de Freguesia e, apesar de ainda não estar oficialmente inaugurado, o Observatório constitui uma infra-estrutura de referência, que para satisfação de José Godinho tem merecido os mais rasgados elogios, nomeadamente de astrónomos e investigadores, que ficam encantados com o que ali vêem e as possibilidades abertas em termos de investigação científica e observação da natureza e dos astros, o que faz com que o autarca dê por mais do que bem empregues os mais e 50 mil contos de investimento ali efectuados.
“Aberto” há cerca de um ano, o Observatório já tem recebido muitos especialistas, mas também alguns e professores e proporcionado algumas “sessões experimentais”. A inauguração oficial, afirma o autarca, está dependente da aquisição de equipamento, nomeadamente um telescópio, pois o que ali se encontra é provisório. A Junta de Freguesia, confessa o presidente, já fez algumas candidaturas, no sentido de conseguir o financiamento necessário à sua aquisição e aguarda uma resposta. Caso as verbas não cheguem, terá de despender mais 25 mil euros – que é quanto custa o telescópio – para equipar o Observatório e definitivamente criar um espaço de ensino e aprendizagem único na região. «Temos sido visitados por muitos especialistas, que reconhecem que é um espaço útil à comunidade científica e às escolas», refere Godinho, sublinhando que o espaço possui um auditório com capacidade para mais de 50 pessoas, salas de reunião e de observação e também «a maior cúpula a nível nacional».
Mas, para além da componente mais ligada à astronomia, o Observatório tem, também, ressalva, sido usado para outras actividades, com destaque para a colaboração com a Direcção-Geral dos Recursos Florestais, que tem desenvolvido acções de formação e reuniões sobre a temática florestal, sem esquecer os bombeiros, que ali realizam acções de simulação e fogo controlado e fazem os respectivos “briefings”.

Parque eólico

Com uma riqueza única ao nível da fauna e da flora, típicas da Serra da Lousã, onde pontuam os veados e corsos, por um lado, e os castanheiros e carvalhos, por outro, a Junta tem uma preocupação marcante a este nível, no sentido da sua preservação. Por isso tem ao seu serviço uma equipa de sapadores florestais, cujo desígnio é manter a floresta o mais limpa possível, garantindo, também, a limpeza de caminhos e acessos.
Bem no cimo desta serra, bafejada pela altitude e pela força do vento, Vila Nova apresenta um dos seus mais emblemáticos cartões de visita. Falamos do parque eólico, um projecto, recorda o presidente, cujas negociações começaram em 1996 e foi construído em 2003. «Foi um dos primeiros parques eólicos erguido na zona Centro» e tornou-se uma «verdadeira atracção», que «trouxe muitos milhares de visitantes a Vila Nova» diz, orgulhoso, José Godinho, que, mais uma vez, “arriscou” num projecto que tem ajudado a afirmar Vila Nova e tem permitido reunir fundos para investir noutras obras. «Com as receitas provenientes do parque eólico fizemos, nos últimos quatro anos, obras avaliadas em 160 mil contos, afirma o presidente da Junta, sublinhando que se procuraram fazer melhorias em todas as 24 aldeias da freguesia.

Parque temático de energias renováveis

Freguesia essencialmente florestal, Vila Nova tem procurado proteger esse património, investindo na floresta autóctone, promovendo, nomeadamente, a plantação de castanheiros, a espécie de excelência, mas também carvalhos e bétulas.
«Temos andado a plantar soitos de castanheiros», afirma o autarca, lembrando que no Dia da Árvore «plantámos cerca de 600 árvores, numa floresta personalizada, em que cada pequena árvore tem o nome da criança que a plantou». Uma ideia que resultou “em cheio”, uma vez que as crianças convidam os pais e familiares para uma visita e pela vida fora aquela será, sempre, a sua árvore.
A junta está a desenvolver outras experiências com o sobreiro. «Vamos ver se dá», diz José Godinho que, em matéria de experiências, não tem “mãos a medir”. Sinal disso serão, também, as cerejeiras que se começaram a plantar à beira de alguns caminhos. «Quem passa sempre pode colher uma mão-cheia de cerejas», diz, bem-humorado.
Mas as ideias e os projectos não se ficam por aqui. Em “carteira” a Junta de Vila Nova tem a construção de um parque temático de energias renováveis, «que será único na Península Ibérica e um dos poucos na Europa», garante Godinho, sublinhando que seria «uma forma de criar um pólo de atracção à serra», ali reunindo exemplos de aproveitamento de energia hídrica, eólica, solar e de biomassa. «Já existe a maqueta, caderno de encargos e memória descritiva», refere o presidente da Junta, sublinhando que o projecto foi apresentado a «entidades privadas, que manifestaram interesse. Agora esperamos pela resposta», remata.
À espera de resposta está, também, o Parque de Campismo de Montanha, um projecto relativamente ao qual a Junta de Vila Nova já fez as necessárias diligências junto da Federação Portuguesa de Campismo e Montanhismo, no sentido de averiguar de todas as necessidades. «Estamos a aguardar resposta», afirma o autarca, acrescentando que o levantamento topográfico do parque, a instalar no actual parque de merendas, já está feito. «Falta ver o que é necessário para podermos avançar», adianta Godinho, que não pára de “magicar” ideias e projectos inovadores para tornar mais única a sua freguesia. Alguns, como estes, ainda estão “na gaveta”, mas outros há que já viram a luz do dia, como é o caso da unidade móvel de cuidados continuados. Um projecto completamente inovador, que José Godinho pensou e não descansou enquanto não viu concretizado, o que aconteceu em Fevereiro.
A ideia, confessa, surgiu a partir do momento em que a reestruturação dos serviços e cuidados de saúde levou ao encerramento das duas extensões de saúde existentes na freguesia que, recorda, bem humorado, já em 1934 era avançada, pois já tinha um médico ao seu serviço (Adolfo Rocha, ou melhor, o escritor Miguel Torga). Vila Nova e Souravas viram os serviços fechar e a Junta não deixou cair os braços. Numa acção concertada e protocolada com a Administração Regional de Saúde do Centro e com o Centro de Saúde de Miranda do Corvo, adquiriu uma carrinha, devidamente equipada, que hoje em dia circula não só pela freguesia, mas também por todo o concelho, levando à população das diversas localidades a prestação de cuidados continuados. Uma ideia diferente, mais uma, que em Vila Nova teve o seu berço.

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