O inquérito ao incêndio que, no dia 9 de Julho de 2006, provocou a morte a cinco sapadores chilenos e um bombeiro português, em Famalicão da Serra, vai ser reaberto pelo Ministério Público. Os autos tinham sido arquivados no início do ano, pelo procurador do Tribunal da Guarda, após ter apurado que o fogo terá tido origem “meramente acidental”, durante a realização de trabalhos de limpeza de um terreno.
No entanto, e de acordo com o ‘Jornal de Notícias’, que avançou aquela notícia, “a Procuradoria- Geral Distrital de Coimbra, perante novos elementos indiciários, equacionou a possibilidade da sua reabertura e já transmitiu orientações nesse sentido aos magistrados da primeira instância”. O jornal acrescenta que “no âmbito deste inquérito tinha sido constituído arguido um jovem de 18 anos que, usando uma motorroçadora, limpava os terrenos onde o fogo começou, tendo o proprietário da quinta sido ouvido como testemunha. Apesar dos 33 graus centígrados registados nesse dia e de haver legislação específica que condiciona o uso de maquinaria no período crítico (artigo 30.º do decreto-lei 124/2006), o procurador entendeu não ser previsível que faíscas de motorroçadora pudessem provocar um incêndio”. Ainda segundo o JN, “a Procuradoria Distrital considerou ser necessário fazer mais diligências, nomeadamente recolher elementos de prova, justificando- se a reabertura do processo”.
Falta de formação e de equipamento
O JN avançou com a notícia no passado sábado, no mesmo dia em que a Associação Bombeirosdistritoguarda.com, juntamente com o Projecto Sérgio Rocha, promoveu uma deslocação ao local da tragédia para analisar e debater as circunstâncias em que a mesma se deu. Presidida por Sérgio Cipriano - elemento dos Bombeiros Voluntários de Gouveia -, a Associação Bombeirosdistritoguarda.com surgiu a 1 de Outubro de 2004, dia em que foi lançado o portal www.bombeirosdistritoguarda.com, e reúne um grupo oriundos de jovens de várias localidades do Distrito da Guarda que têm em comum “o gosto de ser Bombeiro”. Quanto ao Projecto Sérgio Rocha, criado em memória do jovem bombeiro que pertencia à sub-Secção de Famalicão da Serra dos Bombeiros de Gonçalo, é dirigido por Daniel Rocha, irmão do malogrado ‘soldado da paz’. Sem personalidade jurídica e congregando cerca de uma dezena de jovens de Famalicão da Serra, o projecto propõe-se desenvolver actividades de vária ordem, nomeadamente no domínio da música, arte que era particularmente querida a Sérgio Rocha, e da prevenção de fogos florestais. Como seria perceptível ao longo da visita efectuada ao local, os elementos da Associação de Bombeiros e do Projecto Sérgio Rocha partilham muitas dúvidas em relação à tragédia que agora é recordada num spot televisivo que alerta para a necessidade de prevenir a ocorrência de mais fogos florestais. Antes ainda da deslocação para o terreno, Daniel Rocha falou aos jornalistas sobre essas dúvidas, questionando algumas das conclusões que foram apresentadas e criticando a evidente falta de equipamento dos Bombeiros de Famalicão da Serra, que dispõe de instalações exíguas e apenas um carro de combate a fogo, isto apesar de contarem com meia centena de elementos e de terem na sua área de intervenção uma vasta zona de mato e floresta. “Mesmo com o equipamento completo, provavelmente não teria sido possível salvar as seis vidas”, admitiu Daniel Rocha , adiantando uma ideia que seria repetida ao longo da tarde, embora com algumas ressalvas, nomeadamente em relação ao Bombeiro português. Depois, já no meio da Serra, e na presença de dois irmãos, outros familiares, amigos e colegas do falecido Bombeiro, Sérgio Cipriano recordou, com muitos pormenores, as incidências da trágica tarde de 9 de Julho de 2006, em que perderam a vida Sérgio José Neto Bico Rocha (26 anos), Henry Ricardo Bravo Polanco (30 anos), Sergio Andrés Cid Navarro (22 anos), Juan Carlos Escobar Bravo (27 anos), Bernabé Eduardo Barto Ancán (23 anos) e Fabián Alexis Tramolao Millán (27 anos). “Se o Sérgio tivesse o equipamento, teria algumas hipóteses de escapar”, defendeu, salvaguardando que no caso dos sapadores chilenos a situação foi algo diferente, e lamentando ainda o facto de o jovem “não ter esse equipamento, porque não lhe tinha sido distribuído. Só veio depois”, salientou, acrescentando ainda que a morte de Sérgio Rocha - que “estava de tshirt e não usava capacete” - terá sido provocada por asfixia, isto depois de o ‘soldado da paz’ ter caído. A poucos metros do local onde foi encontrado o corpo, estavam os cadáveres dos cinco chilenos, “completamente carbonizados”, recordou. Pelo que ali foi dito, os sapadores vindos do Chile até possuíam a quase totalidade do equipamento - excepção feita ao ‘tendas-abrigo’ -, o que não evitou a sua morte. “Noutros teatros de operações vão voltar a acontecer dificuldades em estabelecer uma hierarquia de comando”, alertou depois Sérgio Cipriano, lembrando que o sistema de comando operacional não estava a funcionar, cabendo ao Comandante dos Bombeiros Voluntários de Gonçalo a coordenação de todas as operações o que foi considerado “humanamente impossível”. Aliás, o relatório da comissão de inquérito ao acidente, então nomeada pelo Secretário de Estado da Administração Interna, referira a “dificuldade na identificação da hierarquia de comando no início das operações”. Num outro âmbito, Sérgio Cipriano salientou também “a falta de formação dos Bombeiros”, revelando que, “só neste distrito, cerca de 1.300 Bombeiros não têm formação no combate a fogos florestais”. O mesmo responsável lamentou ainda a falta de equipamento, isto apesar de na recente visita à Guarda, do então Ministro da Administração Interna, António Costa, os Bombeiros se terem apresentado devidamente equipados… nalguns casos com material emprestado! Ainda antes de ser guardado um minuto de silêncio em memória dos seis homens falecidos no local, Daniel Rocha salientou a importância de não deixar cair a tragédia no esquecimento - “isto não pode ficar esquecido”, disse - e de ver esclarecidos os aspectos que continuam a suscitar muitas dúvidas. “Se já têm o equipamento individual, usemno. Nem que seja em homenagem a quem dele precisou e não o teve”, acrescentou Daniel Rocha, em jeito de alerta àqueles que, como ele, continuam a ser Bombeiros.
O ‘efeito-chaminé’
Recorde-se que a já referida comissão de inquérito ao acidente, concluiu que a causa do acidente (não da ignição) foi um comportamento extremo do fogo”, que se manifesta de “forma especial em desfiladeiros e em encostas com elevado declive”. Xavier Viegas, investigador especializado em autoprotecção contra incêndios e um dos elementos da comissão de inquérito que estudou o acidente, também esteve em Famalicão da Serra onde reforçou aquela ideia. O chamado ‘efeito- chaminé, também conhecido por blow-up, “ocorre sempre em encostas. Quanto mais inclinadas forem, mais rapidamente se desenvolve o fogo”, explicou aquele professor catedrático na Universidade de Coimbra. Sérgio Cipriano concorda e considera essencial aprofundar o estudo do ‘efeito-chaminé’, recordando que, “em apenas dois anos, foram vítimas mortais deste fenómeno 10 bombeiros”. “Nos Estados Unidos, estas visitas guiadas são dadas de forma sistemática e são usadas para explicar aos combatentes o que se passou, e confrontálos e questioná-los sobre as suas opções em situações como aquela”, salientou depois Xavier Viegas, que também alertou para a importância das ‘tendasabrigos’ (fire-shelter) de fogos. Aliás, a comissão de inquérito ao acidente também concluíra que o uso das chamadas ‘tendas- abrigo’ poderia ter sido decisiva “É possível que as probabilidades de sobrevivência dos combatentes aumentassem com a disponibilidade e adequada utilização deste equipamento”, defendeu aquela comissão. Contudo, só no passado mês de Maio é que os Bombeiros de Famalicão da Serra receberam cinco daqueles dispositivos. Mas, Sérgio Cipriano, questiona: “O que adianta ter um abrigo de fogo à cintura se nem sequer se sabe usá-lo?”. Corroborando desta preocupação, Xavier Viegas, defendeu a realização de acções de formação que sirvam para explicar como se usa o equipamento de protecção. “A Escola Nacional de Bombeiros devia descentralizar a formação ao nível dos distritos. Devia haver uma formação base, não tão aprofundada como para as chefias, para as pessoas saberem como actuar”, defendeu ainda Sérgio Cipriano, acrescentando que “isso deve ser feito urgentemente”.
“A vida não quis…”
No próximo dia 9 de Julho, passa um ano sobre a data da tragédia de Famalicão da Serra. Os cadáveres dos cinco sapadores chilenos - que vieram encontrar a morte longe do seu país - foram então trasladados para o Chile onde se encontram sepultados. Quanto aos restos mortais de Sérgio Rocha, repousam no pequeno Cemitério de Famalicão da Serra, a curta distância do local onde o jovem Bombeiro morreu. No meio da Serra, no local onde a tragédia se deu, alguns troncos de árvore que ainda resistem estão completamente negros. Como o fogo os deixou. Entre as cinco fitas que assinalam os locais onde estavam os cadáveres dos sapadores chilenos e a coroa de flores colocada, alguns metros mais abaixo, no local onde foi encontrado o corpo de Sérgio Rocha, erguese agora um pequeno monumento de homenagem aos mártires de “uma tragédia silenciosa que roubou vidas e património”, como então referiu o Bispo da Guarda, D. Manuel Felício. Uma cruz e os nomes das seis vítimas, dominam o monumento onde também é citado um excerto da obra de Miguel Torga que reza assim: ‘O dia amanheceu feliz, Queria subir aos montes Queria beber nas fontes Queria perder-se nos largos horizontes… Mas a vida não quis’
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Bombeiros V. de Gouveia festejam 103.º Aniversário
Fundada a 4 de Julho de 1904, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Gouveia vai festejar no próximo dia 8 de Julho, a passagem do seu 103.º Aniversário. Nesse dia, o programa dos festejos abre com o Içar das Bandeiras, seguido da habitual Romagem aos Cemitérios da cidade. A recepção às entidades convidadas, no quartel, terá lugar pelas 10.00 horas, junto ao Quartel da corporação, onde decorrerão depois a formatura geral e a entrega de condecorações e distinções honoríficas. Às 11.30 horas, será celebrada Missa, na Igreja de S. Pedro, a que se seguirá um desfile pelas principais artérias da cidade. Como habitualmente, os festejos culminam com a realização de um almoço-convívio.
Fonte: Jornal Regional
Quando combatem incêndios florestais, os bombeiros portugueses usam protecção térmica mas não respiratória. Seja por falta de equipamento adequado ou porque "estão mais preocupados com os outros do que consigo mesmos", continuam a expor-se e a pôr em risco a sua saúde, afirma a pneumologista Cecília Longo.Foi para combater esta situação, "para cuidar de quem cuida de nós", que a médica decidiu criar a Associação Chama Saúde. Investigação, formação e prestação de cuidados de saúde são os objectivos da recém-criada associação.Para já, 300 bombeiros dos corpos de primeira intervenção de Sintra, Setúbal e Castelo Branco submeteram-se a uma avaliação que incluiu um questionário e um completo teste físico. A ideia é repetir os exames no final da época de incêndios.A asfixia e a morte súbita (ligada à doença coronária silenciosa) são as principais causas de morte entre os bombeiros. Mas além dos efeitos a longo prazo, "a exposição ao fogo provoca quebra aguda da função respiratória e a sua recuperação torna-se cada vez mais lenta, dando origem a bronquites e asmas", explica a médica. A situação em Portugal é preocupante porque, além da falta de equipamento, os bombeiros têm más condições de trabalho: "Nos Estados Unidos um bombeiro fica cinco horas num fogo até ser rendido. Em Portugal pode ficar dez horas".Cecília Longo espera que o trabalho da associação contribua para despertar a atenção do poder político para a situação dos bombeiros.
Fonte: Diario de Noticias
Ainda sem assustar, a época de incêndios florestais, que desde domingo está na fase de alerta máximo (charlie), está mesmo aí. Nos últimos dias, com a subida da temperatura, já surgiram incêndios vários, da Serra da Arrábida ao Pinhal de Leiria, além de várias ocorrências no Alentejo. Muitas delas por mão criminosa.Ontem, a ocorrência de dois focos de incêndio quase em simultâneo numa floresta próxima da Vidigueira, que chegou a ameaçar animais domésticos, levantou "fortes suspeitas" sobre a possibilidade de ter existido mão criminosa no fogo que durante 11 horas consumiu uma área superior aos 60 hectares naquele concelho alentejano. A Polícia Judiciária já esteve no local, sendo que o caso está sob investigação.As chamas que eclodiram às 22.30 horas de quarta-feira só foram extintas às 9.30 de ontem, deixando para trás uma noite de muito trabalho para as 17 corporações de bombeiros de Évora e Beja, com 120 elementos e 35 viaturas, devastando eucaliptal, pinhal e montado numa serra pertencente à freguesia de Pedrógão, onde os bombeiros se defrontaram com uma zona marcada por uma "enorme massa combustível" proveniente da flora autóctone.À hora de fecho desta edição, alguns bombeiros e meios de combate continuavam na zona em vigilância, onde deverão mesmo permanecer ao longo desta sexta-feira, receando reacendimentos e fazendo votos para que o vento se mantivesse calmo, já que as temperaturas para rondar os 40 graus no cimo da serra.AlgarveA sul, a Serra de Monchique, uma das zonas do Algarve mais fustigadas pelos incêndios florestais de Verão, tem neste momento "mato muito forte com mais de 1,50 metros de altura, em áreas de difícil acesso, integrando silvas e outra vegetação densa e grandes pedregulhos, nomeadamente entre a Fóia e a Picota". O alerta foi lançado ontem ao DN pelo produtor florestal Helder Águas, presidente das Associações de Agricultores e Apicultores daquele concelho do Barlavento, segundo o qual, o problema prende-se com o facto de a maioria dos proprietários estar "descapitalizada na sequência das vagas de incêndios dos últimos anos, o que a impossibilita de limpar os terrenos".LeiriaNesta região, um incêndio florestal em perímetro urbano, ontem à tarde, ainda ameaçou casas e duas fábricas que existem na área onde deflagrou, na localidade da Azóia. Mas o ataque imediato em terra e com meios aéreos controlou as chamas antes que se aproximassem dos edifícios. O meio aéreo logo no começo "é um auxílio precioso", diz o comandante dos bombeiros Voluntários de Leiria, Almeida Lopes, que esteve no local. A intervenção de um dos dois helicópteros que se encontram estacionados na zona, nesta fase, um em Pombal e outro em Figueiró dos Vinhos, tem sido accionado quase todos os dias desde domingo, quando ocorreu o incêndio de grandes proporções no Pinhal de Leiria. Tal como acontece com os dois aviões ligeiros, os dromader, de prevenção na pista da Giesteira em Fátima. O incêndio de domingo consumiu 35 hectares de pinheiro na mata nacional, e ontem chegou a reacender-se, tendo sido controlado.
Fonte: Diario de Noticias
Depois de terminar a Fase Bravo do Dispositivo de Combate a Incêndios Florestais, iniciou-se no dia 01 de Julho a fase CHARLIE, com um aumento significativo de meios em permanência que no distrito de Viseu.
O distrito de Viseu conta agora com 64 Equipas de Combate a Incêndios, 35 Equipas Logísticas de Apoio ao Combate, um Grupo de Reforço a Incêndios Florestais, nove Comandantes de Permanência às Operações, três Helicópteros e dois Aerotanques Médios. Estas forças terão o apoio de: 51 Militares; dez veículos e duas Motos do Serviço de Protecção da Natureza e Ambiente – GNR; três Equipas GIPS / GNR, sedeadas nos CMA’s de Viseu, Santa Comba Dão e Armamar, com 75 elementos e 14 veículos; quatro Equipas das Forças Armadas, com 24 Homens e dois veículos e uma Companhia, com 110 Homens e seis veículos; 20 Equipas de Sapadores de Associações Florestais do Distrito, com 100 Homens e 20 veículos; 14 Equipas de Sapadores Florestais da medida AGRIS, com 70 Homens e 14 veículos; uma Equipa da DGRF – Núcleo Dão Lafões / com 5 Homens e um veículo; e duas Equipas da AFOCELCA / com dez Homens e dois Veículos. Estes meios, serão ainda reforçados pontualmente com todos os meios não afectos ao dispositivo e ainda disponíveis nos Corpos de Bombeiros, bem como, com elementos provenientes de outras forças.
Fonte: Noticias de Viseu
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