A nova imagem da ruralidade alentejana cresce no concelho de Montemor-o-Novo, em forma de agricultura biológica. Aqui, onde a mãe natureza dita as suas leis e comanda a produção de tudo o que de melhor as tradições ancestrais foram "doando" à gastronomia portuguesa, os termos "estratégia e diferenciação" percorrem os 1 900 hectares da Herdade do Freixo do Meio. É verdade que o cheiro dos enchidos que apuram no fumeiro é de fazer crescer água na boca, mas trata-se apenas de uma pequena parte do que está por descobrir numa herdade de montado de sobro e azinho a perder de vista, para os lados de Foros de Vale Figueira, que conquistou a pulso o primeiro relatório de sustentabilidade atribuído em Portugal - que atesta o desempenho económico, social e ambiental da agricultura.O termo "biológico" acompanha a produção de perus-pretos, porcos--alentejanos, borregos e vitelas, mas também o azeite, a par de vários produtos hortifrutícolas. A cortiça, a madeira, o arroz, a beterraba ou os cogumelos silvestres, além do peculiar paté de azeitona, ou a simples massa de pimentão e alho, também se compaginam com este projecto que foi pensado no início da década de 90, como resposta às políticas europeias, que levaram a Herdade do Freixo do Meio e ir muito além da monocultura, para diluir riscos. A aposta já chega à área têxtil, com lãs e peles.Alfredo Cunhal Sendim, gestor da herdade, explica que se procurou encontrar as espécies de animais que poderiam coabitar com os cereais e com a floresta, recuando séculos na história para sublinhar que já antes os árabes e os romanos tinham percebido a importância de diversificar actividades neste clima alentejano. "Se eu só tiver um produto estou sempre sujeito a um mercado. Se eu tiver borregos e novilhos, por exemplo, já jogo em dois mercados. E por aí fora."Um dos pilares essenciais contempla a competitividade que marca as características intrínsecas destes produtos. "Não chegamos lá só pelo preço", explica o mesmo dirigente, dando como exemplo as raças autóctones, mas também a mais-valia de um leite biológico, numa altura em que "transformar e comercializar" passou a entrar no vocabulário desta empresa, contrariando uma tendência alentejana. "Isso já não é uma opção estratégica, é quase uma obrigação. Se nós fazemos um produto diferente na produção primária, mas depois não há ninguém que o transforme, o trabalho que se fez na primeira etapa perde-se."
Fonte: Diario de Noticias
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