Alguns habitantes que não tinham mato compravam-no aos que mais tinham para fazer estrume que deitavam nas terras. Com ele arrecadavam para comer todo o ano, milho, feijão, pepinos, cebolas, alfaces, alhos e muito mais. Mas trabalhava-se.
Ouvi uma vez falar de um incêndio de pouca gravidade. O comboio passa aqui e naquele tempo as locomotivas eram alimentadas a carvão. No tempo da guerra até eram alimentadas a lenha. Alguma fagulha deve ter incendiado o mato. Na altura se havia fogo tocava-se o sino cá da terra a rebate e toda a gente acudia. Não havia bombeiros mas tudo era resolvido.
A partir da década de setenta tudo mudou. Começaram os incêndios em força. Os proprietários que tinham os pinheiros e que os iam vendendo aos poucos para se irem governando, ficaram pobres. Como tudo ardeu as árvores foram vendidas aos preços que os madeireiros quiseram pagar. Uma desgraça. Hoje não há nada. Muitos proprietários já morreram, os restantes estão velhos e arruinados. As suas propriedades foram abandonadas, os animais desapareceram. Isto é desolador.
Fala-se todos os anos em limpar as matas. É tudo fogo de vista. Quem o vai fazer? De onde vem o dinheiro? Isto está bom para as empresas das aeronaves de combate aos fogos. São muitos milhares de euros que recebem.
Manuel Pires Fontes – Ortiga
Hoje e amanhã, a Federação das Associações Agro-florestais Transmontanas vai levar a cabo dois seminários sobre a “Estratégia nacional das florestas e o apoio do Plano de Desenvolvimento Regional para áreas baldias”. O encontro de hoje vai ter lugar na Albergaria Rio Beça, em Boticas. Entre outros, o debate vai contar com a presença da sub-directora da Direcção Geral dos Recursos Florestais e o professor da UTAD Hermínio Botelho. Amanhã, a sessão terá lugar em Cidadelha de Aguiar, no concelho de Vila Pouca. Embora ainda sujeito a confirmação, o encerramento do seminário deverá ser feito pelo ministro da Agricultura.
Fonte: Semanario Transmontano
GIPS da GNR recebe 14 falsos alarmes de incêndios florestais em mês e meio
São os primeiros a serem chamados quando é avistado fumo nas áreas florestais do distrito do Porto. Accionados pelo Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS) recebem as coordenadas do local e partem de helicóptero em busca do sítio onde tudo começou. As três equipas do Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro (GIPS) da GNR localizadas no Centro de Meios Aéreos (CMA) de Baltar, em Paredes, já mataram 20 incêndios à nascença desde 1 de Junho. “Os primeiros 25 minutos são essenciais para actuar”, garante o Capitão Carlos Morgado, Comandante da 6º Companhia do GIPS. Tudo é cronometrado ao segundo porque no combate às chamas cada minuto conta. “A equipa helitransportada, cada uma constituída por 9 homens, tem dois minutos para estar no heli, que tem sete minutos para estar no ar e 15 para estar no local dentro do raio de acções do Centro de Meios Aéreos de Baltar”, explica o Tenente Vítor Romualdo, comandante do CMA de Baltar que faz questão de dizer que esses tempos já foram menores. Um desses momentos aconteceu a semana passada, quando o FÓ-RUM acompanhou uma das equipas terrestres de patrulhamento do GIPS. Lançado alerta
Via rádio chegou a informação de que o helicóptero estava a sair de Baltar, eram 16 horas. O alerta foi dado em Marco de Canaveses, na Livração, em poucos minutos, 8 a 9, a equipa helitransportada estava no local. Ao longe as duas equipas terrestres, que diariamente fiscalizam as matas e florestas da região e que, na altura, se encontravam no Marco de Canaveses, avistam o heli. Para os olhos treinados destes homens da GNR avistar fumo na linha do horizonte é uma prática que não está, de imediato, ao alcance de qualquer pessoa. As informações não tardam em chegar. “Não há indício de fogo, vamos regressar”, anuncia a co-piloto da equipa helitransportada via rádio. O heli dá uma volta de reconhecimento e segue caminho de regresso. Era falso alarme. Em caso de necessidade estas equipas terrestres esperam por indicações para se deslocarem ao local “de forma a dar apoio à equipa helitransportada, sempre que é possível recebem indicações para se deslocarem, tentamos sempre acompanhar o heli”, asseguram.
Falsos alarmes
Este foi mais um dos falsos alertas mas “que não podem ser ignorados”, garante o Capitão Morgado. Se não tivesse sido mais um, a equipa teria sido deixada junto ao fogo e o combate fazia-se com os instrumentos que transportam e com a ajuda da água que o heli após deixar a equipa no terreno procura em pontos determinados. Durante o resto da tarde houve mais duas saídas do GIPS, o alerta foi dado em Vale de Cambra e Águeda. Também nestes dois casos registaram-se falsos alarmes. De 1 de Junho a 19 de Julho o GIPS de Baltar registou 14 falsos alarmes num total de 62 saídas. Um número considerável. “O mais provável é serem uma queimada”, explica o Capitão Carlos Morgado. O problema é diário, sobretudo no final do dia. “As queimas e queimadas são proibidas mas não há nada a fazer as pessoas continuam a fazê-las, o final da dia é terrível, as pessoas chegam a casa do trabalho e é nessa altura que as realizam ou também nesta altura de regresso dos emigrantes os casos aumentam porque aproveitam para queimar os sobrantes”, explica o comandante do CMA de Baltar, nesse dia foram detectadas várias entre Marco de Canaveses e Baião. Enquanto a equipa helitransportada regressa à base, as equipas terrestres continuam as acções de fiscalização. Saíram cerca das 13h da tarde de Baltar, de uma dependência do quartel dos Bombeiros Voluntários locais, e vão manterse no terreno até às 19 horas, mas na verdade “é até à hora que calhar porque há sempre motivos que retém as equipas no terreno”. Por dia percorrem 120 km.
Não há que enganar… são da GNR
Contactam diariamente com os postos de vigia, seis no Vale do Sousa e Baixo Tâmega, com as equipas de vigilância das câmaras municipais, das associações florestais e de outras entidades que disponibilizam voluntários para fiscalizarem a floresta da região. “São elementos importantes para nós porque conhecem bem o terreno e são sempre de uma grande ajuda”, mas por vezes não é possível encontrá-las porque “algumas nem sequer têm horários determinados”, adiantam os elementos de uma das patrulhas que sabem, no entanto, não poder pedir mais a quem o faz de forma abnegada. Se não estão a combater fogos as brigadas terrestres aproveitam para fiscalizar as florestas e sensibilizar as populações para a necessidade da limpeza dos terrenos. Levantam autos aos proprietários dos terrenos quando estes não cumprem a legislação em vigor sobre a limpeza das matas. “Muitos deles só depois da patrulha avisar ou então nem o fazem, o auto segue para a autarquia que tem a competência para aplicação das coimas previstas”, esclarece o Tenente Vítor Romualdo que tem a responsabilidade da relação com as câmaras municipais. A zona sul do concelho de Paredes, Amarante e Baião são as zonas consideradas mais críticas na região. Apesar de estarmos a atravessar a chamada Fase Charlie, a mais crítica e que conta com maior número de dispositivos no terreno, os elementos do GIPS não esquecem que antes de mais são militares da Guarda Nacional Republicana. “Neste momento temos a missão do combate em primeira intervenção dos fogos florestais mas não passam um dia em que apliquemos autos de contra-ordenação por infracções ao código da estrada”. A cor da farda, beije, pode enganar os mais distraídos mas a sigla não engana: GNR.
Fonte: Jornal Regional
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