Ter árvores seculares classificadas no quintal é privilégio de alguns
A memória mais forte que Maria Teresa Valdez guarda do enorme dragoeiro que tem no quintal de sua casa é a do corte de duas pernadas। A seiva desta árvore é vermelha-escura e "quando os dois senhores a serraram parecia que a estavam a matar. Escorria sangue".O dragoeiro não só sobreviveu como, há sete anos, foi classificado como árvore de interesse público a pedido dos proprietários. O espécimen impressionou o engenheiro da Direcção-Geral de Recursos Florestais (DGRF) que foi à Quinta do Jardim, em Laveiras, Paço de Arcos. "Eu dizia-lhe que o meu era maior que o do jardim botânico e ele não queria acreditar. Quando cá chegou rendeu-se", diz Maria Teresa Valdez. Estima-se que esta "árvore-monumento" tenha cerca de 400 anos. Terá inclusive visto o enorme palacete da quinta ir abaixo, sacudido pelo terramoto de 1755, mas resistiu. Quando desce as escadas das traseiras Vasco Valdez sente que vai ao encontro "de uma força da natureza". A árvore "não exige grandes cuidados, é quase um cacto", conta o marido de Teresa Valdez. De seis em seis meses, o dragoeiro recebe a visita dos técnicos da DGRF a ver "se está tudo bem". Esta é uma das árvores classificadas como interesse público pela DGRF que se encontram em propriedade privada. Tal como as que se encontram em jardins ou na via pública, beneficiam de uma zona de protecção de 50 metros de raio a contar da base e qualquer corte tem de ser feito com autorização da DGRF.Foi este "raio de protecção" que inspirou outra Maria Teresa Valdez (prima "afastada" da nossa primeira interlocutora, segundo a própria). Tem no jardim da Quinta Nova da Conceição, em São Domingos de Benfica, Lisboa, uma bela-sombra e uma araucária, ambas "mais que centenárias" e ambas na listagem da DGRF. Pediu a classificação, em 1996, quando soube que a Câmara Municipal de Lisboa tinha intenção de lhe cortar o terreno em dois com uma estrada. O expediente da proprietária da única casa de turismo de habitação existente em Lisboa valeu-lhe sossego e a preservação de uma árvore que faz parte da família."A bela-sombra foi a casinha de bonecas de todas as gerações", conta. A árvore forma um interior oco, que guardou segredos infantis. Inclusive os de Maria Teresa, hoje com 63 anos, que se lembra de entrar pelas janelas no palacete do século XVIII trepando pelos seus troncos. Hoje acredita que todos os pássaros das redondezas se encontram ali de manhã "para combinar o dia" num chilrear que já chegou a "incomodar" alguns turistas perante a incredulidade da proprietária.Já a araucária, o outro "monstrinho" do seu quintal, é tão alta que custa a vislumbrar o topo. Mas é lá que se desenvolvem umas possantes pinhas (a proprietária forma uma bola de futebol com as mãos) de quatro em quatro anos. "Felizmente fazem tanto barulho e demoram tanto a cair que podemos fugir. Era uma cabeça partida na certa..."
Fonte: DN
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