Campanha já plantou 28 mil árvores
Sapadores de todo o País contribuem para o objectivo de reflorestação dos Amigos da Serra da EstrelaA iniciativa “Um Milhão de Carvalhos Para a Serra da Estrela” continuou segunda-feira, com a participação de equipas recrutadas pela Federação Portuguesa de Produtores Florestais
“É uma guerra que tem de ser ganha”, diz José Veloso, 59 anos, dirigente do Clube de Ar Livre de Lisboa (CALL). A “guerra” a que se refere tem, de um lado, a sociedade civil e, do outro, a Serra da Estrela. Em causa está a reflorestação da bacia do Rio Zêzere, que pretende estabilizar os solos e colmatar os efeitos dos incêndios em áreas situadas entre os mil e 400 e os mil 600 metros de altitude.Acompanhado por Matos Coelho e Pombo Duarte, também dirigentes do CALL, José Veloso integra um grupo de uma centena de homens e mulheres, sapadores florestais, que através da Federação Portuguesa de Produtores Florestais (FPPF) dedicam a manhã de segunda-feira a plantar mil 750 árvores. Abrigados da chuva no coreto em frente à Igreja de S. Pedro, em Manteigas, mais de uma centena de homens e mulheres sobem para os veículos todo o terreno em direcção ao Vale Glaciar de Manteigas. É esse o destino uma vez que a neve, que caiu na última madrugada, não permite alcançar o Vale da Candeeira onde deveriam ser plantados mil carvalhos jovens, 500 vidoeiros (bétula celtibérica) e 250 tramazeiras (sorbus aucupária).DEZENAS DE SAPADORES NA ACÇÃODebaixo de neve, os veículos são estacionados ao longo da estreita estrada que liga Piornos a Manteigas. A fila terá, certamente, mais de um quilómetro, pois são mais de duas dezenas de equipas de sapadores devidamente equipados com impermeáveis, botas e instrumentos de cultivo. Saltam dos carros para cumprirem uma parte da missão a que a Associação dos Amigos da Serra da Estrela (ASE) se propôs em Novembro do ano passado e que mereceu o apoio de Humberto Rosa, secretário de Estado do Ambiente. “Um Milhão de Carvalhos para a Serra da Estrela”, assim se designa a iniciativa cuja primeira fase termina em Março. “Acaba por ser a sociedade civil a liderar um processo de onde estão muito ausentes algumas entidades”, diz ao Diário XXI José Veloso, enquanto os sapadores florestais, junto à fonte Paulo Martins, galgam encosta acima para semear as árvores. A acção decorre no mesmo local onde ocorreram desprendimento de terras causado pelo mau tempo, no último Outono, levando à interdição da circulação automóvel naquela estrada durante alguns dias. “Eu estou no Parque Natural da Serra da Estrela e penso que eles deveriam estar a liderar todo este processo e nós a colaborar com eles”, concretiza. “Penso que as coisas estão um bocadinho ao contrário e é o Parque que está a colaborar com a sociedade civil”, acrescenta José Veloso, que há uma semana trouxe à Serra 53 voluntários, três deles entre os 70 e os 81 anos, para ajudar na reflorestação. QUATRO DEZENAS DE ACÇÕES DESDE NOVEMBRODe acção em acção, e já foram realizadas mais de quatro dezenas desde que a campanha começou, a ASE já colocou no solo 28 mil árvores, entre carvalhos vidoeiros e tramazeiras. Até Março, “deveremos atingir os 300 mil”, disse ao Diário XXI José Maria Saraiva, vice-presidente da ASE, assegurando, porém, que a iniciativa “será retomada em Outubro”. A tarefa de plantar um milhão de carvalhos não tem ainda uma data para estar concluída, mas segundo José Maria Saraiva, “dentro de um ano é possível ter o projecto concluído desde que exista bolota em quantidade e haja pelo menos 100 escolas a aderir com uma média de 50 alunos”, acrescentou.Nestes dois meses em que o projecto está no terreno “aderiram cerca de 40 escolas” de vários pontos do País, mas “são ainda poucas para alcançar o objectivo”, referiu aquele dirigente que coordena o projecto pensado para minimizar os riscos da erosão, aumentar a capacidade de retenção de água nos solos, manter e fomentar a sustentabilidade dos recursos naturais e da biodiversidade, além de garantir a continuidade da actividade pastoril, de melhorar a paisagem e promover o turismo. “Dentro de dez anos vai ser possível ver estes carvalhos integrados na paisagem”, admite José Maria Saraiva. Os primeiros resultados deste trabalho que tem envolvidos escolas, sapadores florestais e muitos voluntários começará a ser visível já na próxima Primavera. “Espero já na Primavera ter resultados em termos de floração”, disse José Maria Saraiva, admitindo que as árvores que vingarem esta época terão garantido o seu crescimento. Ciente que nem todas as sementes irão rebentar, que os incêndios florestais são um risco e que pastoreio do gado é grande inimigo das plantas, “seria óptimo se tivéssemos êxito com 30 por cento das árvores plantadas”, concluiu José Maria Saraiva.Zonas onde decorre a acção são indicadas pela ASEPlantação ao longo do ZêzereA plantação das árvores decorre sob a orientação da ASE “em zonas previamente estudadas”, principalmente nas linhas de cabeceira do Alto Zêzere, nos locais conhecidos por Covão d‘Ametade, Vale da Candeeira e Poio do Judeu, zonas onde ocorreram os maiores incêndios em 2005, que destruíram cerca de três mil hectares de floresta.O objectivo é criar bosques de carvalhos nos locais onde hoje não existem árvores devido aos incêndios florestais. Além do carvalho negral, estão a ser plantadas bétulas e tramazeiras, outras espécies autóctones da Serra da Estrela. A iniciativa “Um Milhão de Carvalhos para a Serra da Estrela”, está inserida na campanha RespirAR. Uma iniciativa itinerante de Educação Ambiental sobre florestas e fogos florestais da responsabilidade da Federação Portuguesa de Produtores Florestais e conta ainda com a participação da Câmara de Manteigas e do Parque Natural da Serra da Estrela. Na iniciativa já intervieram alunos de escolas de Salamanca, da Secundária Fernando Namora e Força Aérea Portuguesa.Federação Portuguesa de Produtores Florestais critica instituto“ICN dificulta vida aos produtores” O secretário geral da Federação Portuguesa de Produtores Florestais (FPPF), Ricardo Machado, considerou ontem “louvável” a iniciativa da Associação dos Amigos da Serra da Estrela de plantar um milhão de carvalhos naquela área protegida. “Nós achámos a iniciativa louvável”, disse Ricardo Machado, recordando que a FPPF dinamizou a iniciativa junto das cerca de 80 associações do País.“Temos aqui cerca de vinte equipas e já é muito bom”, referiu aquele responsável sublinhando que a FPPF associou-se à iniciativa para “mostrar ao País e ao Instituto de Conservação da Natureza (ICN) que os produtores florestais nem sempre estão a pedir e percebem quando as coisas devem ser feitas de uma forma integrada”. “A partir deste momento temos um pacto com a Serra”, disse Ricardo Machado, defendendo que as acções devem ser “continuadas e não apenas pontuais”.A presença de mais de uma centena de sapadores florestais constituiu uma surpresa para o secretário geral da FPPF, admitindo que os mil carvalhos jovens – metade adquiridos pela Federação e a outra metade oferecidos pela Direcção Geral dos Recursos Florestais – foram insuficientes. “Se tivéssemos cinco mil árvores eles plantavam cinco mil árvores numa manhã”, acrescentou. Ricardo Machado afirmou que o ICN tem dificultado a vida aos produtores florestais. “Dificulta a quem tem propriedades nas áreas protegidas, não percebe que às vezes mais vale fazer plantações na altura certa do que não fazer”, referiu o secretário geral da APPF, concluindo que a “inoperância leva a que Serra arda toda”.Ricardo Machado queixou-se das estruturas centrais do ICN, mas destacou a colaboração dos directores das áreas protegidas. “Uma coisa são as áreas protegidas e os directores da áreas protegidas que tentam sempre fazer o máximo, mas depois têm os superiores hierárquicos que não os deixam desenvolver e apoiar iniciativas”, lamentou aquele responsável sem concretizar as iniciativas que ficam pelo caminho. No entanto, Ricardo Machado adiantou que o ICN não colabora, por exemplo, na identificação dos locais onde as plantações devem ocorrer.
Fonte: Diário XXI ,Francisco Cardona
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