sábado, 24 de fevereiro de 2007

Dinheiro do petróleo para a floresta

Dinheiro do petróleo para a floresta
O professor Ecio Rodrigues, doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB), lançou recentemente no site da Kaxiana (www.kaxi.com.br) a campanha para o Acre se tornar o primeiro estado da Amazônia a deixar de queimar qualquer palmo de floresta a partir do ano de 2010.
Trata-se de um desafio grandioso, corajoso e animador quando se trata de preservar a maior floresta tropical do mundo nesta época em que o mundo clama pela redução da emissão de gases poluentes que provocam o efeito estufa e o superaquecimento da Terra.
Mas como fazer isso, para o Acre se tornar espelho de preservação da rica biodiversidade amazônica?
Uma das alternativas viáveis para se alcançar a queima zero no Acre acaba de vir à tona com a decisão anunciada este mês pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), a pedido do senador Tião Viana, de prospectar petróleo e gás no território acreano, circundado pelas bacias do Peru e do Amazonas que já demonstraram a existência em abundância desses dois combustíveis fósseis.
Mas logo vem a pergunta que já começa a ser feita pelos ambientalistas, como Miguel Scarcello, da ong SOS Amazônia: mas um estado florestal como o Acre vai procurar logo o petróleo, combustível fóssil causador do efeito estufa?
Pois é. Mas é justamente sobre esse paradoxo que quero tecer considerações para afirmar que sou, sim, favorável ao uso de gás (principalmente este) e petróleo para o Acre sair do outro paradoxo ainda maior que o cerca, que é o de ter um povo pobre morando numa das florestas mais ricas do mundo.
Sou favorável à prospecção dos dois combustíveis porque o Acre – eterno servil de riquezas para o país, como ocorreu com a borracha – não dispõe e dificilmente disporá, pelo menos em curto prazo, de recursos substanciosos para investir na exploração das muitas riquezas existentes em sua floresta.
Caso se confirme a existência comercial dos dois combustíveis no subsolo acreano, a sua exploração - que as tecnologias modernas disponíveis pela Petrobrás já garantem risco praticamente zero de poluição do meio ambiente - certamente que gerará uma receita suficiente para o estado partir verdadeiramente para o seu grande boom comercial.
Um boom que virá com os fármacos, os cosméticos, as sementes, as resinas, a água, o crédito de carbono, os artesanatos, o ecoturismo e outras matérias-primas que estão lá dentro da floresta ... latentes, exuberantes e prontas para serem transformadas em produtos que só fazem bem à humanidade. Basta levar para lá a ciência e biotecnologia apropriadas para operar tal transformação.
Já imaginou o que não representaria para o estado investir na execução de projetos de uso múltiplo florestal sustentável os R$ 190 milhões que o Estado do Amazonas ganhou no ano passado em royalties e em participação especial com o gás e o petróleo que sequer começaram a ser produzidos comercialmente na bacia de Urucu?
Imagino que a ampliação da exploração da riqueza da biodiversidade acreana, além do extremo valor ambiental da floresta em pé, será muito mais favorável ao meio ambiente global do que o percentual de resíduos poluentes que o gás e o petróleo extraído do estado poderão gerar a partir de seu consumo pelo homem.
Não existem ainda estudos que possam precisar matematicamente tal proporção, mas aposto que se o Acre, com o dinheiro gerado do gás e do petróleo, parar de derrubar e queimar sua floresta, como propôs o professor Ecio Rodrigues, certamente haverá muito mais benefícios do que prejuízos para o estado, a Amazônia, o Brasil e o mundo.
Ou seja, devemos partir para a exploração do petróleo e de gás, sim, apenas se o dinheiro daí resultante for usado para desenvolver sustentavelmente a floresta, gerando mais renda e mais empregos para índios, seringueiros, ribeirinhos e outros povos que nela habitam.
Fonte: Kaxiana

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