sábado, 24 de fevereiro de 2007

Violência e desmatamento na Amazônia

Violência e desmatamento na Amazônia

O Sul do município de Lábrea, a 702 quilômetros ao sudoeste do Estado, tornou-se o epicentro do mais novo conflito de terras do Amazonas. De acordo com informações da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Amazonas (Fetagri-AM), a área tornou-se um 'barril de pólvora' prestes a explodir e vitimar posseiros e latifundiários. Não faz muito tempo, uma situação semelhante resultou no assassinato de uma missionária norte-americana no Pará devido a conflitos na região conhecida como Terra do Meio. Na verdade, essa história vem se repetindo há séculos na Amazônia em razão do modelo de ocupação de terras implementado pelo governo brasileiro, que por um lado causa violência no campo e por outro desmatamento. A violência e a degradação ambiental costumam ser, em geral, tratados separadamente. No entanto, fenômenos sociais costumam ocorrer a partir de uma conjunção de elementos, ou seja, existe uma interdependência entre desmatamento e os conflitos no campo, posto que ambos são afetados tanto pela concentração fundiária quanto pelas relações de trabalho e produção. O padrão da distribuição fundiária no Brasil instituiu uma dinâmica de expansão da fronteira que, em princípio, deveria evitar os conflitos por meio da facilitação da ocupação de terras devolutas. Porém, o mesmo padrão de distribuição é reproduzido nas terras da ‘nova fronteira’, que em razão da disputa pelos direitos de propriedade ainda não estão devidamente estabelecidos naquela região. Em virtude disso, os grupos com poder econômico e político têm maior acesso aos títulos de posse, o que traz como conseqüência, muitas vezes, a violência resultante do confronto entre esses grupos e os posseiros. Esses últimos, quando expulsos da terra, deslocam-se, em direção à floresta, abrindo novas terras para lavrar e, assim, ampliando a fronteira com mais desmatamento. Fica claro, então, que a relação entre posseiros e latifundiários na Amazônia pode ser compreendida como duas faces de uma mesma moeda: de um lado a degradação humana e de outro a ambiental. Neste processo, os posseiros e pequenos proprietários são, em geral, os mais prejudicados, já que são expulsos por meio da violência ou da corrupção. Interromper este ‘ciclo vicioso’ significa intensificar a presença do Estado em localidades como Lábrea. Os abusos e, conseqüente, a violência ocorre justamente pela sensação dos moradores destas regiões, sejam latifundiários ou posseiros, de que a lei brasileira não os atingem. Em decorrência disso, vale a ‘lei da selva’, ou seja, a do mais forte.
Fonte: Diario do Amazonas

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